A
desigual distribuição da riqueza é uma arma fortemente potenciadora de
convulsões sociais. Apesar disto, é um tema pouco atraente para a abordagem
pela comunicação social. O drama que actualmente tem lugar no Mediterrâneo tem
tudo a ver com a pobreza extrema existente em África, possivelmente o
continente onde as desigualdades são mais gritantes. É claro que a guerra acaba
por dar um forte impulso à vontade de as pessoas abandonarem a sua terra porque
o que quer que venham a encontrar é sempre melhor do que o que deixam para
trás. A morte é o preço que muitos pagam pelo seu desejo de encontrarem
condições de vida com o mínimo de dignidade, para si e para os seus filhos.
Por
maior que seja a retórica dos donos disto tudo, a verdade é que as
desigualdades continuam a crescer a nível mundial e assim vai continuar
enquanto formos governados por uma ideologia que defende acerrimamente a
existência dessas desigualdades.
De
vez em quando aparece uma iniciativa tendente a iludir as pessoas no sentido de
pensarem que algo está a ser feito para combater a pobreza mas não é possível
que aqueles que nos levaram a esta situação e são directamente beneficiados por
ela sejam os mesmos que lhe querem dar a volta.
De
qualquer modo, é muito interessante a leitura do texto seguinte, que gira à
volta das desigualdades existentes hoje no mundo.
Por
decisão do Parlamento Europeu e do Conselho, 2015 é o “Ano Europeu para o
Desenvolvimento”, sob o lema “O nosso mundo, a nossa dignidade, o nosso
futuro”.
De
facto, marcado pela inserção das economias no sistema mundial em termos
globais, o início deste século XXI ficará certamente associado à emergência de
um período socioeconómico totalmente novo. Vivemos a “era da globalização” e,
com as economias cada vez mais interdependentes, são necessárias respostas
capazes aos desafios actuais de competitividade, à incerteza dos mercados, à
livre concorrência ou à contínua mudança tecnológica.
Em
dezembro último a OCDE divulgou o estudo Trends in income inequality and its impact on economic
growth,
onde revela que a desigualdade entre ricos e pobres nos 34 países membros da
OCDE atingiu o nível mais elevado de há 30 anos. O rendimento de 10% da
população mais rica é 9,5 vezes mais elevado que o de 10% dos mais pobres.
Jamais o fosso entre ricos e pobres foi tão pronunciado nas economias
avançadas. Na década de 1980 essa relação era de 7 para 1 e as desigualdades de
rendimentos aumentaram sobretudo a partir de meados da década de 1980. Ainda
segundo este documento, as desigualdades de rendimento comprometem a igualdade
de oportunidades no plano da educação e limitam a mobilidade social e
profissional, e as conclusões que os decisores políticos daí podem retirar são
as de que o propósito de pugnar por mais crescimento deve seguir a par da luta
contra as desigualdades.
Ora,
esta situação inquieta pois, como se sabe, as fortes crises políticas nascem de
situações de desequilíbrio social. De facto a economia portuguesa foi, durante
os últimos três anos, submetida a um programa de ajustamento, com cortes
significativos orçamentais em diversas áreas sociais — em especial na saúde e
na educação — e a uma contração quer do crédito bancário quer do poder de
compra das famílias, acompanhada por uma forte quebra de confiança dos
empresários. Perderam-se mais 400 mil postos de trabalho e cerca de 11 mil
milhões de euros no valor do novo investimento. E, atualmente, o nosso país continua
a enfrentar um importante repto: responder a uma devastadora crise financeira
internacional, com origem em 2007, que atingiu fortemente a nossa economia e
vem deixando significativas sequelas sociais, em especial ao nível da
destruição de emprego, da perda de rendimento da maioria das famílias, e do
aumento da pobreza.
Acresce
que, em Portugal, o elevado nível de desemprego (e a dimensão de incerteza
criada no mercado de trabalho pela falta de estabilidade no emprego), a par de
severas medidas de austeridade, têm conduzido a uma dramática e inédita
situação demográfica. Os jovens, na sua maioria, saem do sistema de ensino
caindo numa cadeia de contratações precárias que os sujeita a uma forte
instabilidade profissional e a baixos salários, a uns ameaçando a possibilidade
de equacionar um projeto de família, a outros forçando à emigração.
Também,
nos últimos três anos, o desemprego de longa duração ampliou acentuadamente. E
este aumento do desemprego de longa duração não pode deixar de inquietar tanto
mais que é, frequentemente, apresentado como o sinónimo de um abandono quase
definitivo do mundo do trabalho pois, para lá da enorme injustiça humana e
social, significa a perda de um relevante capital humano para o desenvolvimento
de Portugal.
É assim que, neste ano “Ano
Europeu para o Desenvolvimento” — subordinado à ideia da defesa da “dignidade”
— se torna premente que as organizações adoptem uma abordagem inclusiva,
procurando implementar junto dos trabalhadores um tratamento justo e não
discriminatório que siga critérios estritamente meritocráticos em termos de
remuneração e de carreira, assente numa preocupação relativamente à segurança
no emprego. Asseverar uma verdadeira segurança dos percursos profissionais
(associada ao direito à formação ao longo da vida) será parte da resposta aos
desafios socioeconómicos que o país enfrenta, e a afirmação deste propósito
deve passar pela preocupação com as pessoas e por uma sensibilização geral para
os benefícios que uma gestão sustentável dos recursos traz ao desenvolvimento
do nosso país.
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