segunda-feira, 18 de maio de 2015

DÍVIDA ILEGÍTIMA NÃO DEVE SER PAGA PELAS POPULAÇÕES, ENTENDE NOAM CHOMSKY


Noam Chomsky, que se define como socialista libertário, é um linguista, filósofo e activista político norte-americano mundialmente conhecido pelas suas fortes críticas à política externa dos EUA. Na sua recente visita a Portugal concedeu uma entrevista à Revista E do Expresso. Dela retirámos algumas ideias fortes que, não sendo novas, é importante realçar.
Referindo-se ao conceito de terrorismo, considera que “o que chamamos terrorismo é uma categoria muito estreita de terrorismo. Por exemplo, os media portugueses não descreveram como terrorismo a campanha global de assassínios levada a cabo pela Administração Obama”.
Questionado acerca de recentes afirmações suas segundo as quais os ataques de Paris revelaram a hipocrisia ocidental, Noam Chomsky respondeu que “quando disse isso estava a citar uma referência que dizia que o ataque ao “Charlie Hebdo” era o maior ataque à liberdade de expressão que tínhamos na nossa memória viva, publicado no “NYT” [New York Times] por um advogado que é responsável pela defesa da liberdade de expressão. Mas o que é a nossa memória viva? A memória inclui o que eles fazem, mas não o que lhes fazemos. Por exemplo, quando a NATO bombardeou uma estação de televisão sérvia e matou 17 pessoas. Bombardear uma estação de televisão não é um ataque à liberdade de expressão? Sim, claro. É uma memória viva? Não. Quando os militares americanos atacaram a cidade de Faluja [no Iraque] e mataram uns tantos milhares de pessoas, a primeira coisa que fizeram foi invadir o hospital principal. Nesse momento deitaram pacientes e médicos no chão e ataram-nos. Quando lhes perguntaram porque o fizeram – uma vez que tal ato é considerado crime de guerra – a razão por eles apresentada foi que o hospital estava a produzir propaganda. Mas que propaganda? Os números de vítimas! Não é isso um ataque à liberdade de expressão? Será isso memória viva? Não! Porque fomos nós [americanos] a faze-lo. Se fosse perpetrado pelo inimigo seria considerado grave. E na verdade continuamos a viver com isso…”
Perante a suposta ausência de consequências práticas das manifestações em Portugal, Noam Chomsky é da opinião de que “tem havido um decréscimo drástico da democracia na Europa. E é compreensível. “The Wall Street Journal” apontou corretamente há alguns anos que não importa que partido ganhe as eleições, sejam os comunista, os fascistas ou algum outro partido no meio irão sempre aplicar as mesmas políticas, porque as políticas não estão nas mãos das populações mas estão sempre determinadas pela burocracia em Bruxelas que tem em cima dos ombros a pressão dos bancos alemães. Mas não devemos aceitar isso.”
Quando foi solicitada a sua opinião sobre se portugueses, espanhóis e gregos deveriam ou não pagar a dívida, o linguista norte-americano respondeu que “uma grande parte da dívida é aquilo que na terminologia legal se chama de “dívida odiosa”, ou seja, uma dívida que não é da responsabilidade das populações. Trata-se de um conceito da lei internacional criado pelos EUA e que remonta há mais de um século. Quando os EUA conquistaram Cuba, em 1898, não queriam pagar a enorme dívida que Cuba tinha em relação a Espanha. Então os EUA determinaram que a dívida não tinha sido contraída pelo povo cubano, mas pelos ditadores, os colonizadores. Portanto a dívida foi considerada ilegítima e não teria de ser paga. Este é um conceito que tem sido aplicado uma série de vezes. Se olharmos para as dívidas de países como a Grécia, Portugal e Espanha, são contraídas por banqueiros, governante e elites. As populações não têm nada a ver com isso e portanto não exista qualquer razão para pagarem.”

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