Noam
Chomsky, que se define como socialista libertário, é um linguista, filósofo e
activista político norte-americano mundialmente conhecido pelas suas fortes
críticas à política externa dos EUA. Na sua recente visita a Portugal concedeu
uma entrevista à Revista E do Expresso. Dela retirámos algumas ideias fortes
que, não sendo novas, é importante realçar.
Referindo-se ao conceito de
terrorismo, considera que
“o que chamamos terrorismo é uma categoria muito estreita de terrorismo. Por exemplo,
os media portugueses não descreveram como terrorismo a campanha global de
assassínios levada a cabo pela Administração Obama”.
Questionado acerca de
recentes afirmações suas segundo as quais os ataques de Paris revelaram a
hipocrisia ocidental, Noam Chomsky respondeu que “quando disse isso estava a citar uma
referência que dizia que o ataque ao “Charlie Hebdo” era o maior ataque à
liberdade de expressão que tínhamos na nossa memória viva, publicado no “NYT” [New
York Times] por um advogado que é responsável pela defesa da liberdade de
expressão. Mas o que é a nossa memória viva? A memória inclui o que eles fazem,
mas não o que lhes fazemos. Por exemplo, quando a NATO bombardeou uma estação de
televisão sérvia e matou 17 pessoas. Bombardear uma estação de televisão não é
um ataque à liberdade de expressão? Sim, claro. É uma memória viva? Não. Quando
os militares americanos atacaram a cidade de Faluja [no Iraque] e mataram uns
tantos milhares de pessoas, a primeira coisa que fizeram foi invadir o hospital
principal. Nesse momento deitaram pacientes e médicos no chão e ataram-nos. Quando
lhes perguntaram porque o fizeram – uma vez que tal ato é considerado crime de
guerra – a razão por eles apresentada foi que o hospital estava a produzir
propaganda. Mas que propaganda? Os números de vítimas! Não é isso um ataque à
liberdade de expressão? Será isso memória viva? Não! Porque fomos nós
[americanos] a faze-lo. Se fosse perpetrado pelo inimigo seria considerado
grave. E na verdade continuamos a viver com isso…”
Perante a suposta ausência de
consequências práticas das manifestações em Portugal, Noam Chomsky é da opinião
de que “tem havido um decréscimo
drástico da democracia na Europa. E é compreensível. “The Wall Street Journal”
apontou corretamente há alguns anos que não importa que partido ganhe as eleições,
sejam os comunista, os fascistas ou algum outro partido no meio irão sempre
aplicar as mesmas políticas, porque as políticas não estão nas mãos das
populações mas estão sempre determinadas pela burocracia em Bruxelas que tem em
cima dos ombros a pressão dos bancos alemães. Mas não devemos aceitar isso.”
Quando
foi solicitada a sua opinião sobre se portugueses, espanhóis e gregos deveriam
ou não pagar a dívida, o linguista norte-americano respondeu que “uma grande parte da dívida é aquilo que
na terminologia legal se chama de “dívida odiosa”, ou seja, uma dívida que não é
da responsabilidade das populações. Trata-se de um conceito da lei internacional
criado pelos EUA e que remonta há mais de um século. Quando os EUA conquistaram
Cuba, em 1898, não queriam pagar a enorme dívida que Cuba tinha em relação a Espanha.
Então os EUA determinaram que a dívida não tinha sido contraída pelo povo
cubano, mas pelos ditadores, os colonizadores. Portanto a dívida foi
considerada ilegítima e não teria de ser paga. Este é um conceito que tem sido
aplicado uma série de vezes. Se olharmos para as dívidas de países como a Grécia,
Portugal e Espanha, são contraídas por banqueiros, governante e elites. As populações
não têm nada a ver com isso e portanto não exista qualquer razão para pagarem.”
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