Os
mais velhos e menos distraídos sabem que a retórica do PS quando está na
oposição não tem qualquer tradução prática quando assume o poder. Quando se
encontram na oposição os “socialistas” comungam de muitas críticas que toda a
esquerda faz aos governos de direita. No entanto, a partir do momento em que a
chegada ao poder surge ao fundo do túnel, a conversa e a prática mudam de tom. Infelizmente
esta é uma imagem do PS que nunca mudou na realidade portuguesa desde a institucionalização
da democracia em 1974, qualquer que seja a liderança do partido. Todo o
ambiente que está a ser criado à volta da preparação das eleições legislativas
do próximo Outono nos indica que, ainda desta vez nada se irá alterar.
O
seguinte artigo de opinião, que retirámos do Diário de Coimbra de hoje, é
assinado por um militante “socialista” (*) e, como se percebe poderia ser
subscrito por qualquer aderente do Bloco. Sem querermos duvidar da honestidade
política do autor do artigo, a verdade é que receamos bem que, daqui a algum
tempo, ele faça vista grossa a possíveis malfeitorias que o PS leve a cabo
contra os pensionistas e reformados.
Nós
reformados e pensionistas, temos de estar particularmente atentos. Bem queremos
estar sossegados, mas as notícias chegam-nos de todas as formas e lá vem mais
um susto, uma preocupação. Está tudo a correr bem, há luz no fundo do túnel (ou
melhor, já está todo iluminado), mas o melhor é cortar de novo nos salários da função
pública e nas pensões (relatório do FMI dixit). E como bom aluno, sempre
cumpridor das instruções dos mestres (leia-se troika), já vemos o Governo todo
atarefado a preparar novas medidas (para o ano, que neste há eleições!). Sim,
ouvimos bem, a Ministra das Finanças prevê para o ano, novo corte nas nossas
magras pensões que, para muitas famílias, são também o apoio a filhos e netos
desempregados. Não tenhamos ilusões, as exigências dos nossos credores são música
para esta maioria, pois justificam medidas que a ideologia defende. Destruir a
segurança social pública, minando a confiança e atacando os direitos
conquistados ao longo de muitos anos de trabalho, põe em causa serviços
públicos de qualidade, desmotivando os trabalhadores, constituem parte duma
agenda que pretende instituir um Estado mínimo, que vem entregando, e quer
entregar, ao setor privado todas as alavancas que permitam garantir o primado
da política sobre os interesses.
Somos
mais de 3,5 milhões de beneficiários da segurança social (cerca de 2,5 milhões
de velhice e 850 mil de sobrevivência), quase 3 milhões em regime geral e mais
de 600 mil na Caixa Geral de Aposentações. Temos pensões da CGA com um valor
médio de 1280€, bem superiores às do regime geral (porque genericamente
referentes a pessoas mais qualificadas e com mais longas carreiras
contributivas), mas que certamente não constituem uma manifestação de riqueza
que possa justificar um novo ataque.
Não
nos podemos resignar. Não podemos ser convencidos de que não há alternativas. Só
é vencido quem deixa de lutar. Não são os mercados e o dinheiro que constroem o
futuro. Sempre foram as pessoas com o seu trabalho, com a sua criatividade, com
a sua solidariedade, que abriram novos horizontes. Hoje, como sempre, o medo não
nos vencerá. Não é o regresso ao passado (até porque a água não corre duas
vezes sob a ponte) que desejamos. Queremos que nos assegurem as pensões que
oportunamente nos atribuíram, queremos que os apoios sociais às famílias, aos
idosos e aos jovens, garantam a dignidade da vida humana, queremos ter
confiança e esperança. Não é o rendimento do trabalho, seja o do presente, seja
o do futuro, associado às pensões, que deve diminuir. É com o combate às
desigualdades, é com a criação de emprego de qualidade, é com uma melhor distribuição
da carga fiscal, é com o fim dos rendimentos injustificados, é com a melhoria
da eficiência e eficácia da Administração Pública (pela qualificação de
recursos e pela inovação), é com a recuperação do Serviço Nacional de Saúde, é
com uma educação pública pela inclusão, que podemos iniciar o caminho para o
desenvolvimento sustentável (aliando crescimento económico, cultural e social)
e ganhar o Futuro.
Nós,
reformados e pensionistas, temos uma palavra a dizer. Somos muitos, vivemos
muitos verões, conhecemos vicissitudes, vencemos desafios, não nos vão calar.
(*) Moura
e Sá
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