quinta-feira, 12 de março de 2015

BARBÁRIE SOCIAL


Nesta fase de domínio total e planetário do capitalismo neoliberal, para onde quer que nos viremos em termos geográficos, encontramos sempre o mesmo retrato de sociedade: desemprego, miséria, desigualdade, fome, instabilidade social e, em muitos casos guerra. É isto que o sistema dominante tem garantido para os mais de 7 mil milhões que habitam a Terra. A pátria do capitalismo não é excepção a exemplos de barbárie social como se pode ler no seguinte texto da autoria (*) de um socialista (exactamente se aspas) que transcrevemos do Diário as beiras de há dois dias.
George Pecker, jornalista e escritor norte-americano, escreveu um livro muito duro ainda não editado entre nós, de título “Unwinding”, e que em espanhol teve a tradução feliz de “O desmoronamento”. Trata-se de um retrato da América no qual encaixa na perfeição, qualquer sociedade do mundo capitalista ocidental.
O livro retrata as vidas de cidadãos anónimos e de famosos mostrando como a classe média americana se desmoronou. A desindustrialização, o desemprego constante, a solidão das personagens e a corrupção moral no poder estão na base deste processo.
Apesar do crescimento económico, que ronda os 4%, o tecido social americano definha e a coesão social morreu. O autor define a coesão como a vinculação do destino de alguém a outras pessoas e à preocupação que esse destino suscita perante os líderes e as instituições. Numa sociedade doente, ninguém presta atenção aos outros; é assim que está a América, segundo Pecker, o que, diz-nos, “dá medo”.
Numa cidade da Florida sentenciam-se, em média, 120 despejos diários e Pecker relata a vida de um casal, ambos filhos de alcoólicos, sem trabalho, que vivem num carro e que o melhor dia da sua vida será aquele em que conseguirem comprar uma dentadura postiça. Nunca tiveram dinheiro, saúde ou andaram no liceu. Não bebem, não se drogam nem são violentos. De certo modo, constituem uma família modelo que noutros tempos poderiam ter uma vida estável e alguma assistência. Hoje são prescindíveis, porque nem sequer consomem.
(*) António Tavares

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