Nesta
fase de domínio total e planetário do capitalismo neoliberal, para onde quer
que nos viremos em termos geográficos, encontramos sempre o mesmo retrato de
sociedade: desemprego, miséria, desigualdade, fome, instabilidade social e, em
muitos casos guerra. É isto que o sistema dominante tem garantido para os mais
de 7 mil milhões que habitam a Terra. A pátria do capitalismo não é excepção a
exemplos de barbárie social como se pode ler no seguinte texto da autoria (*)
de um socialista (exactamente se aspas) que transcrevemos do Diário as beiras
de há dois dias.
George
Pecker, jornalista e escritor norte-americano, escreveu um livro muito duro
ainda não editado entre nós, de título “Unwinding”, e que em espanhol teve a tradução
feliz de “O desmoronamento”. Trata-se de um retrato da América no qual encaixa
na perfeição, qualquer sociedade do mundo capitalista ocidental.
O
livro retrata as vidas de cidadãos anónimos e de famosos mostrando como a
classe média americana se desmoronou. A desindustrialização, o desemprego
constante, a solidão das personagens e a corrupção moral no poder estão na base
deste processo.
Apesar
do crescimento económico, que ronda os 4%, o tecido social americano definha e
a coesão social morreu. O autor define a coesão como a vinculação do destino de
alguém a outras pessoas e à preocupação que esse destino suscita perante os líderes
e as instituições. Numa sociedade doente, ninguém presta atenção aos outros; é
assim que está a América, segundo Pecker, o que, diz-nos, “dá medo”.
Numa
cidade da Florida sentenciam-se, em média, 120 despejos diários e Pecker relata
a vida de um casal, ambos filhos de alcoólicos, sem trabalho, que vivem num
carro e que o melhor dia da sua vida será aquele em que conseguirem comprar uma
dentadura postiça. Nunca tiveram dinheiro, saúde ou andaram no liceu. Não bebem,
não se drogam nem são violentos. De certo modo, constituem uma família modelo
que noutros tempos poderiam ter uma vida estável e alguma assistência. Hoje são
prescindíveis, porque nem sequer consomem.
(*) António
Tavares
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