Todos
sabemos que a nuvem de privatizações levadas a cabo por este Governo tem
natureza ideológica, constituindo também uma espécie de vingança sobre o 25 de
Abril. A REN, a EDP, a ANA, os CTT, que a maioria de direita decidiu privatizar
na totalidade, eram empresas rentáveis que nem no memorando da troika era
exigida a privatização.
O
realizador de cinema António Pedro Vasconcelos (APV) tem sido um dos que mais
se tem batido contra a privatização da TAP por saber que as desculpas vinda a
público justificativas desta acção não são verdadeiras. No artigo que hoje
assina no Público, analisa a recente entrevista que Fernando Pinto, director
executivo da TAP desde 2000, deu ao Expresso onde se constata que a
transportadora portuguesa não peca por falta de rentabilidade nem deixa de ter
potencial de crescimento.
O
texto é muito longo pelo que deixaremos aqui apenas os excertos que
consideramos mais importantes devidamente identificados:
Fernando
Pinto vem revelar preto-no-branco a verdadeira situação da TAP, explicar as
razões de algumas dificuldades no passado, mas também a sustentabilidade da
empresa e o seu enorme potencial de crescimento. Para bom entendedor, já que o
dever de lealdade institucional o impede de dizer abertamente o que pensa, a
entrevista de Fernando Pinto é esclarecedora; sobretudo quando parte de alguém
que veio para a TAP em 2001 para preparar a sua privatização, mas que tinha a
vantagem de conhecer bem o negócio da aviação e de ter um sentido empresarial
da sua gestão (desde 1997 que o Estado não injecta dinheiro dos contribuintes
na companhia), de se revelar um hábil negociador com os sindicatos e de se
mostrar firme com as interferências que julgou negativas da tutela.
Eis
o que Fernando Pinto afirma que ajuda a revelar as verdadeiras intenções de
Passos Coelho relativamente à privatização da TAP:
Comecemos
pela frase mais importante: “Há empresas
que têm de ser privatizadas ou fecham. Não é o nosso caso, que é sustentável.
Tivemos resultados positivos nos últimos cinco anos — ou nos últimos oito, se
esquecermos 2008.”
Esta frase bastaria para encerrar o processo, se estivéssemos perante um
Governo honesto e genuinamente preocupado em salvaguardar o interesse
nacional.
Mas
Fernando Pinto diz mais. Para alguém que tem responsabilidades institucionais
perante a tutela, e sabendo-se que o Governo anunciou a intenção de privatizar
a empresa, Fernando Pinto não podia ser mais claro, quando acrescenta,
enfatizando o argumento (“insisto sempre”, diz ele), que “é fundamental (a TAP)
ser bem privatizada”
(itálico meu). Para bom entendedor, o que FP está a dizer é que o Governo se
prepara para privatizar mal
a nossa companhia aérea!
Em
resumo, o que ele diz é que:
1.
A TAP dá lucro;
2.
A TAP é sustentável e, por isso, a alternativa não é privatizar ou fechar;
3.
Existem formas de capitalizar a empresa sem ser a privatização;
4.
Esta privatização está errada e mal feita.
APV
acrescenta a seguir que já há grupos de trabalho formados em toda a
empresa para implantar um plano muito concreto de marketing ("Uma nova onda de crescimento"),
que contempla o período de 2015 a 2020 (…), e que o plano só espera a decisão
do Governo (sim ou não à privatização) para ser acelerado.
É
convicção do realizador que
a TAP está bem e recomenda-se. Por outras palavras, que o Governo quer
privatizar a TAP, não por ela estar a necessitar
urgentemente de uma injecção de capital ou por estar insolvente ou
por não ter capacidade de se financiar nos bancos, mas, pelo contrário, por ser
uma empresa com sustentabilidade e um grande potencial de crescimento.
Resumindo
e concluindo, não há razões objectivas que possam justificar a alienação de uma
empresa estratégica como é a TAP.
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