A
campanha de mistificação das malfeitorias levadas a cabo por este Governo
prossegue e terá uma intensidade maior à medida que nos formos aproximando da
data das eleições.
A
última artimanha vem confirmar-nos que a maioria de direita não vai olhar a
meios para obter os seus fins e estes são o convencimento da opinião pública de
que nos encontramos às portas do paraíso ainda que continuemos a sofrer os
martírios do inferno.
Vêm
agora dizer-nos que os números da contratação colectiva – um dos instrumentos
mais poderosos da defesa dos trabalhadores e de combate à pobreza e
desigualdade – estão a subir. Pois bem, olhemos para o gráfico acima e
completemos a nossa informação com o texto que Francisco Louçã escreve hoje no
Público.
O
número de trabalhadores abrangidos pelos contratos colectivos era de quase dois
milhões em 2008 (1894846), ou seja, quase metade dos trabalhadores
assalariados. Hoje é de cerca de 5% da população activa (246643). Assim, temos
agora, com contrato colectivo, um trabalhador em cada vinte. A crítica dos
sindicatos é simplesmente factual.
Mas
o gráfico diz-nos muito mais. Prova que de 2008 para 2009 houve uma fortíssima
queda (meio milhão de trabalhadores), logo que as primeiras medidas de
austeridade começaram a ser aplicadas pelo governo anterior, que impulsionou
reformas da lei laboral para prejudicar ainda mais a contratação. O PS é
culpado da primeira grande crise da contratação. Esses números estabilizaram em
2010 e continuaram a descer em 2011. Mas é a partir do início do programa da
Troika que o colapso da contratação se acelera. Esse era um dos objectivos dos
memorandos – do primeiro ao último. O PSD e o CDS fizeram da devastação da
contratação um dos seus principais objectivos. Assim, de 2011 para 2012 a
contratação passa a excluir mais 900 mil trabalhadores, a maior regressão
registada num só ano ao longo de toda a nossa história. Continuou a descer em
2013 e manteve-se aproximadamente ao mesmo nível em 2014.
Em
resumo, o governo anterior atacou a contratação colectiva com grande eficácia.
Este governo, com a troika, foi ainda mais longe. A contratação colectiva
tornou-se uma condição excepcional entre os trabalhadores portugueses e essa é,
porventura, a mais importante modificação da sua relação social. Para os
sindicatos, é uma ameaça perigosa. Para a vida social, significa simplesmente
que se perde o mais importante instrumento de combate à pobreza e à
desigualdade.
Estamos num mundo novo das
relações laborais. E esse mundo é tenebroso.
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