Do
texto (*) retirado do Diário de Coimbra de ontem, que apresentamos a seguir,
detenhamos os seguintes dados: 1) 147 multinacionais controlam actualmente 40%
da economia mundial; 2) no ocidente, um terço da riqueza é detida por 1% de
privilegiados; 3) apenas duas multinacionais americanas adquiriram na Ucrânia 1,6
milhões de hectares de campos cerealíferos (**); 4) a mais que conhecida implicação
directa do ocidente na criação do Estado Islâmico; 5) entre nós, as parcerias
público-privadas, os escândalos BPP/BPN/BES e as “verdadeira orgias nas adjudicações”.
Como
alguém diria isto está tudo ligado e é essa ligação que coloca em causa a “nossa
própria dignidade” de seres humanos.
Os
pais da especulação financeira, os padrinhos dos paraísos fiscais, os primos da
ladroagem local e os respectivos afilhados políticos da austeridade para os
outros, emoldurados por politólogos e outros cientistas sociais, que parasitam a
informação e concebem a comunicação como o ato mais elementar da manipulação,
querem fazer-nos acreditar que o sistema económico em que vivemos tem as suas
regras e leis próprias, seguras e invioláveis.
De
igual forma, a abordagem da questão da competitividade, quando 147
multinacionais controlam hoje 40% da economia mundial e, no ocidente, um terço
da riqueza ser detida por 1% de predestinados, só pretende escamotear as
verdadeiras problemáticas das nossas sociedades, inscritas num mundo – por tudo
isto e não só – cada vez mais violento.
Suprimir
uma violência não é, em si, um ato político, pois basta uma maior violência para
acabar com a inicial. Confundir ou identificar relações de força com a natureza
do vínculo e coesão sociais, é meio caminho andado para a perda das liberdades
fundamentais e o renascimento de poderes concentracionários, sejam eles
financeiros, bélicos ou religiosos.
Vem
isto a propósito desta “atualidade rançosa”, permitam-me o oximoro, em que o
parlamento europeu ainda discute as melhores fórmulas de combate à evasão e
deslocalizações fiscais e, em S. Bento, os deputados procuram caligraficamente
a melhor redacção de um texto contra o enriquecimento ilícito, depois de tantos
anos de parcerias público-privadas, de BPP/BPN/BES e de verdadeiras orgias nas
adjudicações de um Estado duplamente tutelado, pelas oligarquias nacionais e
pelo estrangeirismo financeiro internacional.
O
emocional não deixa de aparecer, quando ouço o arcebispo caldeu de Mossul –
segunda mais importante cidade iraquiana – a exclamar que o lugar físico do seu
apostolado foi ocupado por radicais islâmicos que “nos querem convertidos ou
mortos”, facto tanto maia grave ao sabermos da implicação direta do ocidente na
criação do Estado Islâmico (Daesh), com a invasão americana do Iraque (2003) e
o suporte sunita da Arábia Saudita e do Catar.
O
fanatismo e as capacidades militares crescentes do Daesh, já com “sucursais”
reclamadas na Líbia, Egipto, Síria e Argélia e camicases disseminados pela Europa,
poderiam justificar a pretensão, do atual presidente europeu Juncker, de criar
um sistema europeu de defesa, velha ideia de Charles de Gaulle.
Contudo
,eis que tal estrutura teria como principal missão a contançao da ameaça russa
na Ucrânia, no momento em que só duas multinacionais (Monsanto/Cargill)
adquiriram 1,6 milhões de hectares de campos cerealíferos ucranianos, dados
confirmados pelo Oakland Institute e por Paul Craig Roberts, politólogo e
ex-conselheiro económico do presidente Ronald Reagan, que defende ainda uma
maior alienação de terras agrícolas, como forma de pagamento dos empréstimos do
FMI.
Em
cada dia que passa, surge-me com um crescendo de premência, a ideia de que
alguns querem que a nossa escolha de estar pacificamente no mundo fique
dependente de uma obediência cega a princípios exógenos à nossa própria dignidade
de ser humano.
(*)
João Marques, diplomado em Ciências
da Comunicação
(**)
Cerca de 18% da área de
Portugal
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