Como
tem sido sobejamente referido, e, ao contrário do que a propaganda governamental
nos quis fazer crer durante muito tempo, nunca faltou dinheiro às grandes
empresas só que não o aplicaram “nem para abater a dívida nem para fazer
investimento”, como refere Francisco Louçã no texto que assina hoje no seu blog
no Público, tendo por base um artigo inserido no Expresso Economia do passado
sábado. A linguagem simples utilizada por Louçã é acessível a qualquer pessoa,
permitindo aos leitores compreender quanto quiseram enganar os portugueses.
Em
poucas palavras ficámos a perceber, de uma vez por todas, quem viveu acima das
suas possibilidades… e quem pagou a factura.
Se
pensava que com a comissão de inquérito ao BES e com os longuíssimos
testemunhos dos banqueiros, contabilistas e afins ficou a saber como funcionava
a elite da economia nacional, pois prepare-se para mais notícias
surpreendentes. O Expresso deste sábado apresenta uma delas e é um número:
de 2008, quando começou a crise financeira, até 2014, as empresas que agora
estão no PSI20 distribuíram 13 mil milhões de euros em dividendos. É mais do
que as empresas chinesas aplicaram em privatizações em Portugal, acrescentam
com malícia e rigor as autoras do artigo (Elisabete Tavares e Joana Madeira
Pereira, “PSI20 paga 13 mil milhões de dividendos desde 2008”). Por outras
palavras, nunca faltou dinheiro. Outra coisa é saber como foi aplicado.
De
facto, houve dinheiro mesmo quando não havia. Exemplos: mesmo com prejuízos de
63 milhões, em 2011 a Sonae SGPS pagou 66,2 milhões de dividendos. Usou as suas
reservas para satisfazer os accionistas. A Zon, em 2012, com modestos ganhos de
22 milhões, pagou o triplo em dividendos, 61,8 milhões. O mesmo já tinha
acontecido no ano anterior. A administração foi às reservas.
Havia
portanto dinheiro. E generosamente: as duas empresas mais endividadas, a EDP e
a PT, foram as recordistas do pagamento de dividendos (4,4 mil milhões na EDP e
mais de 3 mil milhões na PT). No total, os pagamentos de dividendos em 2014
foram 1,7 mil milhões, ou seja, 57% do lucro foi entregue aos accionistas no
caso das empresas não financeiras do PSI20. Se considerarmos o peso dos dividendos
comparado com os resultados líquidos, então temos o número esmagador de 154% em
todo o PSI20 (em 2013 e por causa dos prejuízos da banca). Os dividendos foram
ao pote.
Note
bem. Durante estes anos vivemos primeiro uma crise financeira e depois uma
recessão prolongada. O endividamento destas empresas aumentou e o seu
investimento caiu a pique. Ficaram mais pobres. Mas usaram mais de metade dos
seus rendimentos para pagar dividendos aos seus accionistas – mesmo quando
tinham prejuízos ou quando gastavam mais do que o que tinham ganho. Não foi nem
para abater a dívida nem para fazer investimento para terem melhores resultados
no futuro (já para não dizer criar emprego ou aumentar a capacidade produtiva).
Foi para pagar dividendos. Chama-se a isto viver acima das suas possibilidades.
E é a história da burguesia portuguesa.
Pois é. O caso Salgado não é
só uma maçã podre que perturbava o cesto. O cesto é que é o problema pior.
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