terça-feira, 24 de março de 2015

UNIDADE IMPOSSÍVEL?


Para que não haja qualquer espécie de equívocos, é importante deixar aqui bem claro que o texto seguinte é da única e exclusiva responsabilidade de quem o assina.

Por uma vez estamos de acordo com algumas ideias de João Miguel Tavares (JMT), um jornalista assumidamente de direita que escreve no Público.
Comecemos pelo título de hoje, algo significativo, “Tanta esquerda, tão pouca direita”.
O corpo do texto inicia-se (talvez) com um regozijo “a esquerda automutila-se” e, depois, um provável lamento, “à direita os verdadeiros liberais não têm um único partido que responda às suas preocupações”. Isto é verdade mas também é verdade que os ideólogos da direita pouco se importam com o facto porque sabem que a unidade está garantida já que cada um tem a noção do que é essencial preservar. Infelizmente uma importante parte da esquerda não funciona assim.
Para JMT “a extrema-esquerda portuguesa [designação com sentido pejorativo muito usada de forma provocatória pela direita] parece um óvulo fecundado pela crise, em pleno processo de divisão celular: só da barriga do Bloco de Esquerda já nasceram o Livre, a Associação Fórum Manifesto, que deu origem ao movimento Tempo de Avançar (ex-Manifesto 3D), mais o novo Juntos Podemos, que entretanto se cindiu no novíssimo Agir, que por sua vez se fundiu no novérrimo PTP/Ag!r, com ponto de exclamação e tudo.” JMT esqueceu-se de referir o MAS de Gil Garcia como antecessor do Juntos Podemos.
Também não há dúvida nenhuma de que “é bem possível que haja mais diferenças entre um coelho e uma lebre do que entre todos os partidos e movimentos citados na frase anterior, mas a esquerda é mesmo assim”.
Infelizmente alguma parte da esquerda que não faz cedências à doutrina neoliberal nem a quaisquer terceiras vias ainda não aprendeu nada com a história insistindo num sectarismo que apenas beneficia as doutrinas mais radicais da direita.
Perante a actual realidade portuguesa, os mais velhos estão a ver o mesmo filme do que se passou nos anos 70 do século XX, com uma miríade de pequenas organizações de extrema-esquerda que, à força de se degladiarem entre si, acabaram por desaparecer deixando ainda mais terreno livre à direita.
O comum dos cidadãos atentos ao crescente domínio do capitalismo neoliberal não entende como é possível que pessoas bem ancoradas na esquerda mas cada qual entrincheirada no seu pequeno feudo ideológico, não sejam capazes de perceber que só em união é possível vencer um inimigo tão poderoso como é aquele que agora governa o mundo.
Sem querermos enveredar por qualquer pessimismo desmobilizador, a verdade é que se começa a desenhar o que vai acontecer em Portugal nas eleições legislativas de 2015. 

Luís Moleiro Santos


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