Para
mal do pluralismo da informação que chega aos portugueses, o espaço televisivo
está pejado de gente da área do Governo que, em qualquer momento pode entrar na
política activa, mas se apresenta como comentador independente embora sub-repticiamente
vá fazendo o jogo do poder. Todos os golpes baixos levados a cabo pela maioria
acabam sempre por ser abençoados por esta gente enquanto a oposição,
especialmente a que se situa à esquerda do PS quase não tem voz.
Esta
denúncia tem de ser repetida até à exaustão para que vá chegando aos ouvidos
dos portugueses uma realidade que não é séria. Numa democracia o pluralismo de opinião
não pode ser apenas figura de retórica apresentada quando convém perante a
opinião pública, ainda por cima num país pobre, pouco letrado e envelhecido, em
que o acesso à informação é feito, em muitos casos, apenas por via televisiva.
Um
dos “comentadores” mais conhecidos é Marques Mendes, uma figura grada do PSD que
não está fora da política activa e que vai para a televisão propagandear a mensagem
enganadora do Governo sem transmitir a todos nós qualquer ideia sobre o futuro
do país.
O
texto que transcrevemos a seguir, foi retirado do Diário as beiras de ontem, onde o seu autor, Paulo Valério
(advogado) comenta a acção política de Marques Mendes, um dos muitos “homens
previdentes” de que “a política portuguesa está cheia”.
O
Dr. Marques Mendes já sabe quem vai ser o próximo Presidente da República. Di-lo
com aquele ar de quem tem fonte segura, de quem domina meandros fora do alcance
dos mortais comuns. Guterres ou Marcelo – parece que a disputa será entre os
dois. Para Mendes tudo é previsível. E tudo é simples.
Mendes
é um político do seu tempo. Mas já não é do nosso tempo. O pequeno mundo deste
conselheiro de Cavaco não tem segredos. É um homem que, por assim dizer, trata
a política por tu. E para homens como ele, tudo se resume a estar, em cada
momento, do lado certo da história. Ele sabe onde e quando investir. Ele sabe o
que o governo vai fazer antes de toda a gente e o governo parece que lhe pede opinião
quando tem dúvidas. Ele é o homem a ter por perto, um amuleto, um precioso
pingente.
A
política portuguesa está cheia de homens destes. São homens previdentes mas
que, quanto ao futuro do país, propriamente dito, sempre previram pouco. Não previram
o desemprego e a estagnação da economia. Não previram a queda do BPN, nem do
BPP, nem do BES. Nem a vinda da Troika, nem a emigração galopante, nem a aflição
dos idosos, nem o descrédito – o estertor do regime.
Mendes e os que o rodeiam
parecem viver confortavelmente e talvez isso confirme os méritos da sua
cartomancia. Talvez o mal dos portugueses seja apenas não poderem trazer todos
ao peito um pequeno Marques Mendes, para lhes dar sorte. É uma explicação perfeitamente
plausível e quem o ouça, sempre todo jactante, acanha-se, certamente, de pensar
que não seja assim.
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