segunda-feira, 2 de março de 2015

MAIORIA ACOSSADA


Todas as intervenções de comentadores alinhados com o Governo, no que diz respeito aos resultados das recentes negociações do novo governo grego com os donos da União Europeia (UE) vão no sentido claro de os helénicos nada obtiveram e foram obrigados a vergar-se ao poder imperial alemão na UE. É fácil constatar que esta é a estratégia da maioria de direita porque se sente acossada por ter sido furada a propaganda posta a circular de que não há alternativa à actual política de austeridade. Cada avanço que o governo grego consiga, em relação ao que estava estipulado e apoiado por Passos/Portas, é mais uma prova de que “o modelo de ajustamento definido por Berlim” não constituía a melhor opção para os países intervencionados. O reconhecimento desta realidade só traria vantagens para Portugal mas constituiria um forte revés para a maioria de direita a poucos meses de eleições legislativas…
O seguinte texto de Nicolau Santos, que retirámos do Expresso Economia de sábado passado, constitui um complemento deste nosso raciocínio.
Passos Coelho foi no mínimo deselegante com as pretensões do Governo grego de renegociar o ajustamento. Percebe-se: um governo que aceitou todas as imposições da troika e foi mesmo mais além só pode irritar-se se aparecer outro que prova que é possível mudar as medidas draconianas que, desde 2011, se abatem sobre os países periféricos. Além do mais, o Governo de Passos sempre demonstrou que apoiava incondicionalmente o modelo de ajustamento definido por Berlim. Mas Passos devia agradecer a Alexis Tsipras. É que o que Atenas já conseguiu deu-lhe oportunidade de encetar um novo discurso, o de que Lisboa também discordou da troika e conseguiu várias cedências, por exemplo que os défices ficassem acima do previsto. Histórias para crianças, claro. Foi a forte quebra da procura interna e o brutal aumento das falências e do desemprego, com impacto nas receitas fiscais, que tornaram inviável o cumprimento dos défices. Não houve cedência, antes evidência. Mas esta não é a história que Passos nos quer contar.

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