Todas
as intervenções de comentadores alinhados com o Governo, no que diz respeito
aos resultados das recentes negociações do novo governo grego com os donos da
União Europeia (UE) vão no sentido claro de os helénicos nada obtiveram e foram
obrigados a vergar-se ao poder imperial alemão na UE. É fácil constatar que
esta é a estratégia da maioria de direita porque se sente acossada por ter sido
furada a propaganda posta a circular de que não há alternativa à actual
política de austeridade. Cada avanço que o governo grego consiga, em relação ao
que estava estipulado e apoiado por Passos/Portas, é mais uma prova de que “o
modelo de ajustamento definido por Berlim” não constituía a melhor opção para
os países intervencionados. O reconhecimento desta realidade só traria
vantagens para Portugal mas constituiria um forte revés para a maioria de
direita a poucos meses de eleições legislativas…
O
seguinte texto de Nicolau Santos, que retirámos do Expresso Economia de sábado
passado, constitui um complemento deste nosso raciocínio.
Passos Coelho foi no mínimo
deselegante com as pretensões do Governo grego de renegociar o ajustamento.
Percebe-se: um governo que aceitou todas as imposições da troika e foi mesmo
mais além só pode irritar-se se aparecer outro que prova que é possível mudar
as medidas draconianas que, desde 2011, se abatem sobre os países periféricos. Além
do mais, o Governo de Passos sempre demonstrou que apoiava incondicionalmente o
modelo de ajustamento definido por Berlim. Mas Passos devia agradecer a Alexis Tsipras.
É que o que Atenas já conseguiu deu-lhe oportunidade de encetar um novo
discurso, o de que Lisboa também discordou da troika e conseguiu várias cedências,
por exemplo que os défices ficassem acima do previsto. Histórias para crianças,
claro. Foi a forte quebra da procura interna e o brutal aumento das falências e
do desemprego, com impacto nas receitas fiscais, que tornaram inviável o
cumprimento dos défices. Não houve cedência, antes evidência. Mas esta não é a
história que Passos nos quer contar.
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