A
discriminação da mulher é especialmente lembrada a 8 de Março mas a luta contra
esta situação de desigualdade deve ser feita todos os dias, até que esta
injustiça social seja erradicada de uma vez por todas. Aliás, a crise tem
servido de pretexto também para, em certos casos, agravar ainda mais a
discriminação feminina.
O
texto seguinte é parte de um artigo de opinião de Eugénio Rosa que
transcrevemos do Diário as beiras do passado dia 11/3 onde o economista
enumera, obviamente em traços genéricos, alguns exemplos em que, sem justificação,
ressalta a desigualdade existente entre mulheres e homens na sociedade
portuguesa.
A
mulher já ocupa em Portugal, ao nível de criação de riqueza e de contributo
para o desenvolvimento do País um papel insubstituível. As próprias
estatísticas oficiais divulgadas pelo INE confirmam isso.
No
4º trimestre de 2010, o nível de escolaridade da população feminina em Portugal
era já superior à do homem. Em relação à população activa e empregada, em cada
100 mulheres 41 possuiam o ensino secundário e superior, enquanto em relação
aos homens a proporção era mais baixa, já que 31 em cada 100 possuiam o ensino
secundário e superior. E no mundo actual, o ensino secundário é o mínimo
necessário para se poder ter uma profissão minimamente qualificada.
Apesar
de possuírem um nível médio de escolaridade superior ao dos homens continuam a
ser as mais atingidas pelo desemprego, nomeadamente num período de crise como é
aquele que vivemos. No 4º trimestre de 2010, em cada 100 desempregados 52 eram
mulheres. No entanto, se a análise for feita por níveis de escolaridade
conclui-se que em cada 100 desempregados com o ensino secundário 59 eram
mulheres, e em cada 100 desempregados com o ensino superior 66 eram mulheres.
Em Portugal, com o tipo de economia, de desenvolvimento e de patrões que temos,
maior nível de escolaridade e sendo mulher é, infelizmente, sinónimo de maior
desemprego.
A
nível de remunerações as mulheres continuam a ser sujeitas a elevada
discriminação. Em primeiro lugar porque as mulheres ocupam fundamentalmente
profissões de menor qualificação e remuneração. Assim, as profissões em que as
mulheres são claramente maioritárias:
Pessoal
administrativo e similares (62,1%); Pessoal dos serviços e vendedores (67,6%);
Trabalhadores não qualificados (67,6%) – são profissões claramente de
qualificações e remunerações mais baixas. Numa profissão de elevada
qualificação em que detêm ainda uma posição maioritária – Especialistas das
profissões intelectuais e científicas (55,6%) – entre 2009 e 2010, portanto num
único ano, o seu peso diminuiu, pois passou de 57,6% para 55,6% do emprego
nesta profissão.
Depois,
segundo dados dos Quadros de Pessoal relativos a 2009 (são os últimos dados
disponíveis) a discriminação das mulheres verifica-se tanto a nível sectores de
actividade económica, como em relação à escolaridade como relativamente às
profissões/qualificações. Por ex., em relação a trabalhadores com ensino básico
a situação varia entre a remuneração média da mulher ser superior à do homem em
2% no sector de transportes, e a remuneração média da mulher corresponder
apenas a 45% da do homem no sector de “Actividades artísticas, desportivas e na
de espectáculos”. No ensino secundário, a discriminação varia entre a
remuneração média da mulher representar 90% da do homem no sector “Actividades
administrativas e de apoio”e ser apenas 61,4% no sector “Actividades
artísticas, desportivas e espectáculos”. E a nível de licenciatura, a
discriminação remuneratória varia entre a remuneração média da mulher
representar apenas 61,9% no sector “Actividades administrativas e serviços de
apoio” e ser 82,8% na do homem no sector de “Informação e comunicação”. Em
relação ao nível de escolaridade, quanto mais elevada é a sua escolaridade,
menor é a percentagem que a sua remuneração representa em relação à do homem.
Com escolaridade mais baixa – inferior ao 1º ciclo básico – a remuneração média
da mulher representava 81,6% do homem, enquanto uma mulher com doutoramento a
sua remuneração média corresponde apenas a 70,9% da do homem.
Finalmente
a nível de profissões/qualificações, a discriminação é tanto maior quanto mais
elevada é a sua qualificação. Assim, a remuneração média da mulher correspondia
a 92,5% da do homem a nível de “Praticantes e aprendizes”, mas era já de 70,5%
da do homem a nível de “Quadros superiores”.
Esta discriminação é
confirmada por dados mais recentes do Ministério do Trabalho (GEP), pois em
Abril de 2010 a remuneração media dos homens era de 1273€ e a das mulheres 958€
(78%), e 13% das mulheres recebiam o salário mínimo, enquanto os homens eram
apenas 6%. Mesmo depois de reformada a mulher continua sujeita a uma grande
discriminação. Em Janeiro de 2011, a pensão média de velhice da mulher era
apenas de 304€, enquanto a do homem era de 516€, ou seja, a pensão das mulheres
correspondia apenas a 58,9% da do homem. E a nível de pensões de invalidez, a
pensão média da mulher era, em Janeiro de 2011, muito inferior ao limiar da
pobreza sendo apenas 294€/mês, que correspondia a 78% da do homem (337€ /mês).
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